quarta-feira, 25 de abril de 2012

Longas viagens de moto. Você está pronto? - parte 04

Na parte 03 deste tema, nos restringimos a falar de amortecedores, reforços de chassis, GPS e outros acessórios.

http://aekmotoadventures.blogspot.com.br/2012/04/longas-viagens-de-moto-voce-esta-pronto_23.html

Deixamos para hoje a questão das malas de tanque, cases laterais, top cases, bagageiros e outros itens em termos de equipagem de "malas" em geral para a moto.


Vamos falar sobre os riscos e facilidades de se utilizar um top case, discorrer sobre os cases laterais, apresentar alternativas diversas para carregar bagagem.

Não vamos neste post, porém, por hora tratar da questão "do que levar" em termos de bagagem (roupas, peças de reposição, medicamentos, documentos, etc.), pois tal questão será matéria da parte 05.


Top case - riscos e soluções

Um top case pode ser uma ótima solução numa moto, mas, igualmente, pode se tornar um potencial risco. 

Quando se fala em top cases, muitos motociclistas, sobretudo os mais inexperientes, acham que basta colocar um grande top case atrás da moto e está tudo resolvido. Não raro vemos, como já falamos anteriormente, top cases com capacidade maior de 50 litros, e peso igualmente correspondente. 

O que você deve lembrar é que toda moto tem algo que se chama "centro de gravidade", o qual  numa teoria rápida, deve ser mantido o mais entre as rodas possível. Quanto mais atrás você localizar este centro de gravidade, mais instável você deixará a roda da frente, tirando a capacidade de manobra da moto, trazendo potencial risco em retas, curvas, enfim, todas situações. Igualmente terá risco se jogar o centro de gravidade muito à frente, perdendo capacidade de tração, prejudicando o amortecimento frontal e outros efeitos indesejados na ciclistica da moto.

Certas motos, como a Buell Ulysses, já tem a tendência "natural" de ter seu centro de gravidade jogados  muito atrás principalmente quando viajando com garupa e utilizando-se top case, pois a garupa vai encostada no mesmo e praticamente todo seu peso vai parar atrás do eixo traseiro da moto. O fato da moto ter uma aceleração brutal, de igual forma em nada contribui para a estabilidade do conjunto, e viagens com a moto muito carregada pode se tornar um grande problema. Isso, é lógico, não é "privilégio" da Buell Ulysses, sendo que a grande maioria das big trails contam com esse problema "crônico". Pelo fato de tnecessitar ter a frente "maleável" à possibilitar curvas fechadas em estradas mais travadas ou mesmo trilhas leves, é bastante natural que a distância entre-eixos não seja muito grande - ao contrário do que ocorre com as customs - e com isso um top case normalmente é jogado para muito além do eixo traseiro, o que não raro acontece também com os cases laterais. Os mesmos normalmente estão mais para a secção traseira da moto do que para a dianteira. 

Além disso, temos de lembrar que a secção traseira da moto não foi feita para suportar grandes cargas. Não é só o top case que vai afixado no subframe, mas também os cases laterais. Coloque ainda nisso tudo mais o peso do garupa e você terá meio caminho andado para acabar com sua viagem pela quebra do quadro. Portanto, se você não consegue se imaginar viajando sem top case, procure sempre ao menos ter um de tamanho compatível com sua moto. Qualquer coisa que carregue mais de um capacete fechado, em tese, é grande demais.Se couberem dois, então, é enorme e um risco em potencial. A foto ao lado é um bom exemplo do que não deve ser colocado em uma moto. Note ainda que tal top case possui "ganchos" para amarração de carga sobre o mesmo. Certamente o piloto desta moto deve se gabar achando que fez uma ótima escolha em termos de top case. Mas acredite, é péssima!

Além do mais, top cases muito grandes fazem com que a moto tenha mais área lateral, fazendo com que ventos laterais prejudiquem em muito a estabilidade da mesma. E não duvide da força dos ventos em deteminadas regiões! 

Mantenha o top case menor que você puder, lembrando do tamanho limite: deve caber um capacete fechado, no máximo. 30 ou 35 litros é o ideal. Mais do que isso é franca loucura e um risco em potencial, principalmente se você for viajar também com cases laterais e garupa.


Cases laterais - ferro, alumínio, plástico ou cordura? 

Assim como ocorre com os top cases, existem cases laterais de todos os gostos, desde mais comuns de cordura ou outro material flexível mas igualmente resistente (lona, couro, etc) até os mais caros, como os de alumínio, muitas vezes confeccionados para se encaixarem de forma perfeita e exclusiva em um determinado modelo de moto.

A mesma sugestão - ou dica, como preferir - que vale para os top cases, vale para os cases laterais. Não os tenha em tamanho exagerado, a fim de não comprometer a estabilidade, ciclística e manobrabilidade da moto. O exemplo da primeira foto deste post, é a indicação de tudo aquilo que NÃO se deve fazer em uma moto. Vladimir Yarets é um motociclista russo extremamente experiente, com quilometragem nas costas suficientes para colocar a maioria de nós "no chinelo". Tal experiência, contudo, não parece ter lhe oferecido a escolha mais acertada em termos de cases laterais, neste caso literalmente malas. 

Claro que muitas vezes as "escolhas" se dão até por motivos econômicos, quando não tem o motociclista as melhores condições financeiras para equipar sua moto com cases de última geração, à estilo dos Touratech ou confeccionados pelo próprio fabricante da moto, mas o "exagero" a que Yarets submete a moto, é algo despropositado, por mais que este "viramundo" seja obrigado a carregar a casa junto. É um grande risco que corre, pelo todo já explicitado supra.

Em tese, o tipo de cases laterais bem como seu tamanho depende muito do modelo da moto. Tanto é assim que você jamais conseguirá encaixar um case Vario de uma G650GS em uma R1200GS, ainda que ambas sejam BMW. E nem vice-versa. Ainda há regra básica de procurar não se utilizar cases metálicos em motos leves aptas à trilha, como a Lander, XRE e outras pequenas, assim como os mesmos não são recomendados para Customs em geral, esportivas ou sport tourings. Na verdade, cases metálicos só vão bem em big trails, e ainda assim há que se ter um mínimo de noção espacial e de geometria. Não adianta, por exemplo, você querer enfiar grandes cases metálicos de mais de 40 litros de cada lado da moto, pois ela simplesmente ficará torta e aerodinamicamente instável. Isso porque a grande maioria das big trails tem seu cano de escape saindo em uma das laterais, obrigando você a afastar o case do mesmo. No caso de utilizar idênticos de cada lado ao invés de mais estreito no lado do cano de escape, você será obrigado a afastar igualmente o outro lado e deixará a moto muito mais larga do que necessitaria. Como consequencia, você terá tudo o que um motociclista não deseja. manobrabilidade próxima de um carro, e ficará totalmente "travado" no trânsito pesado. Mesmo cases metálicos menores e "genéricos", para mais de um tipo de moto, não são os melhores, porque jamais conseguem acabar com a largura exagerada da moto, como o caso dos Trax da foto ao lado. Nesse sentido, se você está procurando cases metálicos, que tal utilizar os cases do próprio fabricante? É claro que cases da BMW R1200GS, por exemplo, custam uma verdadeira fortuna, desestimulando a utilização dos mesmos. Mas você por acaso não tem um amigo que possa trazer os mesmos para você? Ou que tal enviá-los ao Brasil na sua próxima viagem ao exterior, ainda que seja para países vizinhos como Argentina e Chile, que contam com bons representantes BMW? Como última alternativa, você pode partir com sua BMW para a Argentina SEM cases, passar na BMW e voltar COM cases de lá... Ainda que pagando impostos, valerá à pena. 

Alternativamente você tem os cases de alumínio da Zega, vendidos pela Touratech. Ótima marca, mas só ela já tem valor de mercado embutido. Então, se você estiver pensando em equipar uma BMW R1200GS, por exemplo, não espere pagar muito menos por um conjunto de cases da Zega mais suportes  respectivos do que por originais BMW.

E saindo dos originais e dos da Zega, não restarão muitas alternativas no mundo dos cases metálicos, porque praticamente todos os outros não terão o recorte necessário para o cano de escapamento, a fim de reduzir ao máximo a largura com o aproveitamento de espaço apropriado. É claro que você poderá ainda mandar fabricar cases especiais para você, mas a qualidade do serviço, salvo raríssimas exceções (quando você encontrar, me fale!) será sofrível, e a probabilidade do mesmo ficar com soldas ruins, torto ou mal acabado é enorme.

Se você contudo não se importa com a largura final do conjunto, então as opções são variadas... Trax, SWMotec, Metalic Mule, Alpos, Shad, Hepco & Becker, Teton, Tesch, Jesse, Overland Solutions, Owyhee, Imnaha, Cascade, Denali e uma infinidade de outras marcas estão entre as mais ou menos famosas. O problema é que a grande maioria é importada e, no Brasil, importações diretas estão cada vez mais difíceis de serem feitas. Além dos obrigatórios impostos (Imposto de importação - I.I .-  e Imposto sobre a Circulação de Mercadoria e Serviços - ICMS - que incidem em cascata) que elevam a mercadoria a mais de 100% do seu valor original (se custar USD 300 você vai acabar desembolsando no mínimo USD 600 até USD 800 ou mais, por conta de impostos que recaem até sobre o frete!), passando dos USD 500, ainda se terá taxa de um tal de "Importa Fácil" dos correios (que de fácil não tem absolutamente NADA!) de mais R$ 150,00. E reze, depois de tudo isso, para a mercadoria não se extraviar e nem chegar danificada. Ao final das contas, importações independentes acabam se tornando mais questão de sorte do que outra coisa.

Partindo aos cases plásticos, talvez os da Vario sejam a melhor solução, principalmente se estivermos falando de BMWs. Os mesmos se encaixam como luva na R1200GS, havendo modelo específico para a mesma, assim como há para a G650GS e para a F800GS. Todos eles expansíveis, aumentando ou reduzindo a capacidade de carga com um simples destravar de linguetas ou movimento de manivela interna. Simplesmente excelentes! Não conheço melhores nesse sentido.

Alternativamente, você tem ainda os Hepco & Becker, outra solução que tenho como bonita e aceitável. Optando pelos mesmos, não esqueça de também adquirir o respectivo suporte. Cada modelo de moto tem um tipo específico de suporte, e um não se encaixa em outra. Porém, o problema da importação persiste para os Hepco. Ou você importa de maneira independente e isso lhe custa os "olhos da cara" mais um tanto de sorte, ou você se sujeita a pagar o que o representante ou lojista quer pelos mesmos: algo em torno de mais caro ainda (mesmo que este não pague tantos impostos ao final das contas quanto você pessoa física).

Finalmente temos os cases de cordura ou material semelhante, se é que se podem chamar estes propriamente de "cases". Marcas reconhecidas como Oxford e Givi figuram entre diversas outras, com proposta semelhante. O "porém" desse tipo de "case" é que normalmente contam com uma espécie de "capa de chuva" que precisa ser instalada em caso de tempo ruim, e que não raro alçam vôo e são perdidas na estrada, levando ao ensopamento de toda sua bagagem, verdadeiro pesadelo para qualquer motociclista. Alternativas de embalar a roupa em sacos plásticos ou de lixo, além de tomarem espaço, não são a coisa mais "chique" ou mesmo prática que se pode imaginar embora para utilizar tais cases não exista muita outra alternativa se você quiser preservar suas roupas secas. Tal tipo de "case" vão muito bem em esportivas, mas esqueceria das mesmas para as Big Trails.

Claro que existem outros tipos de "cases" flexíveis muito bons. Falaremos destes no item infra sobre "dry bags", "roll bags", "rack pacs" e outros.


Malas "exóticas" - uma alternativa barata ou perigosa? 

O case ou mala mais "exótica" que já vi foi em motos de uns estrangeiros em Punta Arenas, Chile. Se não me engano ingleses, como não poderia deixar de ser... Os motoaventureiros simplesmente resolveram construir cases de madeira! Sim! Madeira!!! Não sei se os caras eram marceneiros ou o quê, mas ver tais cases num primeiro momento me causou arrepios... Fiquei imaginando o que sobraria dos mesmos em caso de uma queda, bem como quanto ao risco em um acidente de uma lasca de madeira perfurar o corpo do motociclista.

Depois disso ainda vi outros cases feitos do mesmo material... Bem. Pensando melhor, na pior das hipóteses se todo o mais der errado, duas coisas são certas: primeiro que você vai conseguir consertar os cases em praticamente qualquer lugar do mundo e, em segundo, quando nada mais for possível, você ainda terá um tanto de lenha para acender uma fogueira!

O fato é que, ao contrário do que se possa imaginar, malas "exóticas" são mais comuns em motos do que se pensa. Vão desde caixas de munição pesada à mochilas amarradas e jogadas por cima do banco, sem esquecer de passar pelas fabricações próprias supramencionadas dos reis da marcenaria.

Chama bastante atenção o fato que muitos motoaventureiros costumam utilizar com bastante frequencia Pelican Cases, ou ultimamente as réplicas das mesmas, de marca "Nanuk", já havendo sussurros de que estas últimas seriam até melhores do que as originais Pelican. Tenho minhas dúvidas quanto a qualidade das Nanuk, mas quanto as Pelican, não tenho o que falar contra. O fabricante destas diz e vende as mesmas como à prova de praticamente tudo, incluindo-se aí água, poeira e carro. Sim. Pode um veículo passar por cima das mesmas que, em tese, as mesmas não restarão mais do que arranhadas.

Fato: comprei uma Pelican Case para servir futuramente como alternativa de Top Case pequeno para a G650GS que ainda vou adquirir e posso atestar a qualidade da mesma! É efetivamente impermeável, pode levar cadeado e não tenho dúvida alguma que aguentaria o peso de um veíulo médio em cima sem maiores deformações. Para os que procuram alternativas aos cases tradicionais, portanto, tenho que a melhor opção.


Como tudo, a utilização das mesmas sofre certas restrições, principalmente no que tange a impossibilidade de retirá-las facilmente, como ocorre com cases fabricados industrialmente com fim específico para as motos e ainda pelo fato que se deve na maioria das vezes construir artesanalmente os suportes para as mesmas. Para complicar ainda mais, no Brasil não existem Pelican Cases que não sejam importadas, só para variar mais um pouco... Os poucos fornecedores oficial do material, acho que nem preciso dizer; acabam cobrando mais por um par de Pelicans do que por um bom conjunto de cases laterias.

Mas aqui há uma excelente alternativa! Pelican Cases não passam de verdadeiras malas. Então, na aduana, como tais passarão facilmente, sem taxação alguma, desde que, é lógico, você as utilize para uso próprio, traga as suas roupas e badulaques dentro, etc. E claro, tire as etiquetas que as denunciam como zero km!

Portanto, se você vai ao exterior, que tal sair com uma malinha bem surrada e voltar com um par de Pelican Cases para instalar na sua moto?

Há os mais variados tamanhos e formatos das mesmas. Adquira algumas que efetivamente sirvam para a sua moto, e que não deixem a mesma com aspecto de geladeira ambulante. 


No próximo post vamos falar de malas de tanque com seus prós e contras; sobre dry bags, inner bags, roll bags, rack packs e outros, além sobre a utilização de aranhas, fita rápida e esticadores para fixação de babagem.

Até lá!


* Créditos fotos: 
1a. - Vladimir Yarets e sua moto
Demais fotos - retiradas aleatoreamente do site www.advriders.com e outros sites







2 comentários:

  1. QUEM PRATICAR O VERDADEIRO MOTO-TURISMO FAZ LONGAS VIAGEM

    ResponderExcluir
  2. Muito top esse post. Obrigado pelas detalhadas e valiosas informações.

    ResponderExcluir