Há mais de um ano e meio atrás, postei sobre realizações de sonhos, "Motocar ou não motocar... Eis a questão!", enfim, prioridades de vida em busca de algo que muito queremos em prol de outras.
Naquela época, minha prioridade era um lar, uma casa que eu pudesse chamar de minha, onde pudesse criar meu filho "solto", com espaço de sobra no quintal para que ele corresse, jogasse uma bola, subisse em árvores e comesse frutas direto do pé, por mais ordinárias que fossem. Lugar onde levasse também - prá aprender que a vida às vezes é dura - alguns bons tombos na grama, uma picada que outra de formiga "pimenta" e aprendesse a respeitar abelhas, aranhas e outros pequenos seres peçonhentos, para, em futuro breve saber como tratar com outros quiçá maiores, infelizmente ainda existentes, com os quais invariavelmente um dia cruzará, chamados por alguns de chatos, pedantes, desumanos, bandidos (políticos?), etc.
(E o que isso tem a ver com motos? "O blog não é sobre motos?", questiona-se você...)
E eu queria - e, por honra ou teimosia muar - começar era do zero mesmo, para deixar exatamente como eu sonhava, sem ter de aceitar o que encontrasse já pronto. Iria construir, portanto. Queria também, nesse pacote, um lugar onde minha esposa pudesse tomar banho de sol, catar manjericão para prepararmos uma pizza marguerita, ler um livro tranquila observando o guri ou que pudéssemos simplesmente namorar à noite sob a luz da lua e das estrelas, sentados em um banco de jardim
embaixo de um butiazeiro ou nespereira no meio do gramado rescendendo ao orvalho da madrugada. E exigente que sou, queria ainda que a casa tivesse na lateral corredor de coisa de metro e vinte, coberto por pedras à lembrar as boas e velhas estradas de rípio da Patagônia (lugar pelo qual me apaixonei) acabando aos fundos do terreno, por onde pudessem meus amigos ou nós mesmos passar com as motos e lá em um círculo que desenharia ou algo do tipo, alinhá-las. E queria também uma boa lavanderia com lugar para guardar minhas tralhas de moto em um sótão sobre a mesma, com um bom acesso lateral por escada que ali encostaria.
(E isso tem tudo a ver com motos...)
Nessa época, fui antes de pá e enxada na mão, para salvar da morte certa uma "réles" nespereira. Sei lá... Deve ser porque estou ficando com mais idade, mais "bobo" talvez, e porque, à medida que vamos avançando no tempo ainda restam as boas lembranças.
Quando vi a nespereira no terreno outrora baldio, lembrei do tempo que era guri e que ficava comendo na rua as tais ameixas (é incrível e quase inimaginável hoje em dia nas capitais, mas naquela época se encontravam árvores frutíferas em plena calçada, coisa hoje em dia cada vez mais rara!). A gente guardava os caroços que fossem redondos, e ia depois brincar de "bodoque", já que estas eram melhores do que as bolinhas verdes de cinamomo, colocando latinhas nos muros. A diversão maior era quando achávamos as de alumínio, o "último grito" em tecnologia (lembrando ainda que naquele tempo não existia a cata ao tesouro da reciclagem, e a confecção das latinhas de alumínio eram muito cara), pois as normais da época eram as de "folha de flandres", que não amassavam tão fácil - ou, delírio!, furavam - quanto as primeiras.
(Naquele tempo a gente percorria a vizinhança de bicicleta, sonhando com motos, tendo um prendedor de roupas a prender uma tampa de margarina em contato com os raios só prá fazer um som do tipo "trééééé" que a gente jurava igual ao das DT's...).
A teimosa "reinou" para sair, com raízes emaranhadas em pedras e por baixo de laje antiga de concreto. Foi marretaço, legítima "picaretagem" e poda à facão, regados à muito suor embaixo de um sol de meio dia de um domingo. Se ela resistisse, estaria apta a aguentar o resto dos trancos da vida, pensei eu... Cavei cova profunda e para lá arrastei-a, já meio esgotado das forças, pensando que teria sido muito mais fácil simplesmente "deixar por isso mesmo" e esquecer da nespereira.
Mas eu sou "teimoso, como uma mula". E não é de minha índole "deixar por isso mesmo" as coisas. Quero sempre ir até o fim, mesmo que tenha de voltar "n" vezes para concluir algo... Arranquei à unha o basalto abaixo (até hoje não sei quantas camadas, concreto e o que já tivera naquele terreno que virara baldio e assim estava registrado desde sempre na matrícula), abri um entorno de coisa de metro e meio, encontrei a melhor terra que pude em meio à população incipiente de mamonas (por mais que eu arrancasse pela raiz voltavam com tudo), forrei o fundo da cova e ali meio que atirei a coitada. Molhei-a e gritei alto - já enlouquecido de sede e calor:
"Agora, te vira que eu quero frutos quando vier prá cá!". Com o "facão de três listras" - amigo velho de todo bom gaúcho que se preze - ainda dei-lhe de talho, avisando o que ela teria enfrentar no meio da obra...
(Obra, ou ao menos essa minha, que tem tudo a ver com motos...)
Voltei lá quase que diariamente, atirando uma água ao pé, até se firmar e virar-se só com a chuva que porventura caísse. A peonada foi mais implacável que eu. Aquela árvore já judiada, serviu de escora prá andaime, tripé para bancada de dobrar vergalhão e o que mais viesse. Viravam cimento e brita na base dela, enfiaram-lhe pregos para tudo quanto foi lado e lugar que mais lembravam os cravos às mãos de Cristo (com uma capacidade enorme de enferrujarem da noite para o dia, os quais removi só com muita força e grande pé-de-cabra) e antes de me mudar no início de agosto, ainda arranquei à picareta placa de concreto que ali se acumulara. E ela lá, impassível.
Entrei com as motos pelo caminho que planejei. Mais um sonho estava agora realizado! Brindei à coragem dela, me lembrando de quantas vezes estive lá olhando-a de rabo de olho, quantos tijolos vimos sendo empilhados desde as bases, quantos outros sonhos deixados para depois, horas "perdidas" longe de minha esposa e filhote para visitar a obra, mandar destruir e fazer novamente uma parede que saíra em desacordo com os planos e deixar tudo como queríamos, quantas brigas com os trabalhadores, fornecedores, com o construtor para que tudo corresse a contento. Lembrei-me da R1200GS Adventure que me desfiz com dor no coração para adquirir o terreno onde agora estava nossa casa, de bem mais lá atrás quando eu ia há quilômetros de distância estudar de bicicleta só sonhando com uma bonita família e com uma moto (ou uma "frota", porque não?), olhei a "velha" nespereira de guerra emoldurando a lavanderia e então tive certeza de como se realizam os sonhos de vidas e de motos...
Primeiro são sempre só sonhos. Os sonhos e mais nada. Torná-los realizade, depende só de sua força.
(E concluo que também meus sonhos tem a ver com motos...)
Agora outros sonhos já vislumbramos no horizonte. Não é de nosso feitio nos acomodarmos... Temos planos de e com as motos, viagens, empreendedorismo em torno delas. Minha esposa "chutou o balde" e decidiu que vai realizar também seus sonhos. Parte à nova profissão. Dou-lhe a maior força, pois tenho que a vida é só uma e precisamos fazer aquelas coisas com as quais sempre sonhamos. Tudo é possível. Mudamos o rumo, pegamos a estrada de chão em detrimento do asfalto tranquilo, contrariamos o grito dos exaltados que nos cobravam o caminho mais fácil e medíocre, mostramos dentes e punhos aos covardes e descrentes que nos disseram prá não ir por ali, para comprar pronto, prá não construir, prá não andar de moto (pois moto é perigoso!), não ter filhos, não sonhar demais, evitar os perigos e "talhos" da vida, já que atalhos, não há.
"Então, de repente, me lembro que os sonhos devem ser construídos
passo-a-passo. Que sonho só sonhado, não leva a nada. Deve ser
realizado, sendo importante ter sempre presente que só temos uma vida
para fazê-los acontecer. É difícil? Claro que é! Demora? Normalmente um
pouco. Tudo depende do tamanho e da força empregada para realizar o
sonho." (sic post de fevereiro de 2011)
Tudo depende do tamanho e da força empregada para realizar o sonho.
Tudo depende se o seu sonho vale a pena...
Nunca deixe que alguém lhe diga que você não pode ter, não pode ir, não pode fazer. Não se permita desculpas. Não deixe de ir, de viajar porque todos seus amigos "deram prá trás" naquela viagem programada e há tanto sonhada por você para Ushuaia, Atacama ou para onde você deseje ir de moto. E mesmo se você ainda não tem moto - e nem "onde cair morto" - nunca, jamais deixe de sonhar! E sonhe com força! Sonhe acordado! Persiga seus ideais, lute, aguente o caminho ruim e os talhos que a vida pode lhe dar. Atalhos, não há.
Se todo mais der errado, ao menos no fim você poderá olhar para trás e dizer, com orgulho, que tentou.
Porém, lhe garanto: nada pode dar errado! Salvo para os covardes, os que desistem. Enquanto você não desistir, não acabou. E se não acabou, ainda não deu errado.
Acredite que se esse ano foi bom para você, o próximo será ainda melhor. Se tiver a fé necessária, assim será.
Para o próximo ano já me comprometi a sonhar ainda mais alto, com trocar de moto, dar andamento definitivo à A&K Motos, viajar mais no lombo da motoca nova à vir, com a esposa e filho me acompanhando num carro novo e branco da A&K Motos que me seguirá (ou que seguirei) ou, com sorte, algumas viagens mais curtas com ela na garupa, conhecer novos lugares, etc.
Afinal, que tipo de motociclista nós todos somos? Dos que concretizam os sonhos de vidas e de motos!
Até breve!
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