A notícia é bombástica. Procede ou não... Tudo indica que sim. Alguns ainda sustentam que não...
O fato é que faliu mesmo ou ainda vai falir... Se já não foi, está muito perto. Ou já era, e só não fecharam a tampa do caixão. Todo doente que não se cura, um dia morre. Por completo ou parcialmente. às vezes vai só a "carcaça", e a "alma" se mantém, quando vale alguma coisa. Volta invariavelmente melhor, pela evolução natural que se espera. Outras vezes vai é tudo mesmo, não sobrando nada, sequer lembrança. Se voltar, volta rengo, menor, pior...
Quantas empresas - e empresários - não são assim? Você acha que eles já eram, e depois retornam com toda carga, como se nada tivesse acontecido. Donald Trumph, Warrent Buffet, Sr. Kasinski e vários outros estão aí para não me deixarem mentir sozinho.
Também pensava assim até ontem: "Bem feito!". A partir de hoje não penso mais. Pelo contrário, me envergonho por um dia assim ter refletido. Se mudei minha forma de pensar porque lapidei minha alma e meus sentimentos, se cresci enquanto ser humano, já é outra história...
A única coisa que acho agora sobre a situação do grupo é que é uma pena... Uma verdadeira e grande pena. Ou uma triste vergonha.
"São apenas negócios...", uma voz lá no fundo da arquibancada sustenta tímida.
O cenária é de desolação. Chegou "à minha porta", pelo lugar que passei por anos à fio a caminho do trabalho, dia após dia, mais de dez até onde recordo, mais de três mil vezes com certeza, primeiro vendo reluzentes motocicletas Harley Davidson - com as quais sonhava quando gostava de customs -, depois Buell's (tenho uma!) e Triumph's (sempre quis!), na sequência Ducatis (a Ferrari das motos!), após KTM's (a irmã louca e nervosa das BMW's) e finalmente... Nada!
É o que há hoje na outrora loja modelo, onde se podia caminhar pelo meio de verdadeiros sonhos de consumo, mitos, ícones. Um lugar onde, de início, você se sentia bem, acolhido pelos vendedores ávidos a lhe "empurrar" o que você já estava pronto para comprar de qualquer forma e pagar à vista, se não fosse tanto dinheiro, em espécie mesmo! Era convidado a um café, a sentar na confortável poltrona de frente para um poster com um relíquia reluzente de Harley, travava uma conversa sobre os melhores temas do mundo: motos e viagens de moto. Muitas dicas, comentários, sonhos, girando em torno das nossas adoradas motocicletas. Hoje só restaram lembranças e além disso NADA. Hoje só se vê devastação, ruína e uma grande sensação de solidão, um imenso sentimento de tristeza. Tristeza essa que não é nossa, não caberia a nós sentí-la. Mas, por algum motivo quase inexplicável, a gente sente.
Olha-se para um dos cantos e se visualiza um vidro quebrado, estilhaçado, quiçá por um descuido com uma moto, ou - começo eu a deixar a imaginação viajar - pela ira de algum consumidor revoltado, que tenha perdido sua racionalidade em momento de desespero por tanto querer fazer valer direito que sabia ter (em um mundo "normal" e onde justiça fosse efetiva e não mera palavra bonita) ou mesmo um vendedor que tenha se entendido injustiçado com alguma prática qualquer de seu chefe, determinada pelo Grupo, ou por ter sido sem maiores explicações demitido, sabe-se lá. Talvez nada disso, talvez simples vandalismo por parte de desocupados, do tipo que picha muro e destrói patrimônio público, tentando justificar ou extravasar algum sentimento interior de raiva ou frustração que nem ele mesmo conhece ou tenta mascarar, ou vá lá saber a verdadeira causa daquele vidro quebrado.Olho novamente para o vidro e lembro que na casa da gente se providencia o quanto antes a troca. Ninguém quer um cartão de visitas assim. Ninguém quer se passar por "falido".
E a culpa? Há culpa? Para quem devemos apontar o dedo?
Nesse momento meu dedo que outrora apontava inquisidor se vira para mim... Eu sou o culpado, você é o culpado, nós todos, milhares de consumidores que algum dia compramos uma moto do Grupo IZZO somos os verdadeiros e únicos culpados!
Culpados por simplesmente termos entregado nosso dinheiro e depois não cobrarmos o que tínhamos por certo, um serviço decente, um pós-venda que honrasse tantas marcas, o "mito". Achávamos tudo normal, natural. Bobos aqueles que queriam o algo mais (na verdade somente o natural, o legitimamente esperado). bradaram alguns. Culpados aqueles que sabendo das práticas de alienação fiduciária de motos novas a bancos totalmente desconhecidos, que faziam com que as mesmas não pudessem ser prontamente emplacadas - e isso seria o natural! - ainda assim insistiram, acreditando que com eles seria diferente, que, pelo fato de conhecer o dono ou o gerente da loja, o que aconteceu com o amigo próximo com ele não ocorreria! Culpados os que acharam natural esperar 45 dias para o conserto ou manutenção de uma moto, que levaram a moto no "mexânico" da esquina quando estava na garantia por não confiar no serviço prestado, que deram munição para práticas quiçá de não muita responsabilidade. E mais culpados ainda por se acharem, depois de tudo isso, no direito de reclamar. Maior culpada ainda a turma do
"deixa prá lá!".
Diz-se que em casos de "golpe da loteria", há sempre dois culpados, dois bandidos: o vendedor do "bilhete premiado" e o comprador. O vendedor pelo óbvio golpe, e o comprador, pelo desejo de locupletar-se, tirar alguma vantagem... Hoje, inovou-se no golpe, e volta e meia a bandidagem manda uma mensagem de celular dizendo que você ganhou uma casa, um carro, num concurso que você NÃO concorreu. Mas vai que erraram e a casa agora é sua, não é mesmo? No meio de tantos, sempre tem o "esperto" que vai lá entregar o "ouro para o bandido". E o golpe, que deu certo, segue com a corda toda. Culpa de quem mesmo? Daí que muitos casos desses nem chegam ao conhecimento da polícia. É a vergonha que vem à tona, por querer tirar vantagem.
Mas o que isso tem a ver com o "caso Izzo"? Qual a "vantagem" que o consumidor tinha? Qual a minha responsabilidade nisso?, perguntarão muitos.
Nunca vou esquecer que fiz a minha parte e fui "tripudiado", xingado e até ameaçado. Disseram que eu estava desmerecendo a marca, desonrando o mito, falando mal da moto x, y, z, etc., quando a todo momento eu reclamava da prestação do serviço falho, quando eu via, há priscas eras, que a coisa não ia bem. E isso já faz tempo... Muito tempo!
E quem sou eu? O que entendo eu de negócios?
"São apenas negócios...", volta aquela voz querendo vir às primeiras cadeiras da arquibancada, agora mais audível.
"Nunca são apenas negócios...", urro eu como animal acuado e ensandecido,
"...quando se trata de paixões, quando se trata de motos!"
Às vezes me vejo sozinho e começo a me perguntar se não sou eu realmente o errado. Não sou eu o único apaixonado, o louco não correspondido?
Sei que hoje colho apenas aquilo que plantei. Colho ódio, ira, tristeza... Não me restaria outra coisa senão chorar o leite derramado, chorar sobre o cadáver ainda quente. Se num primeiro momento me senti "vingado", hoje não tenho mais essa sensação. Se algum sentimento ainda resta é apenas de pena e de vergonha. Aquela tal de vergonha alheia.
Mas não se deve ter pena dos mortos. Jamais!
O que se precisa sempre, diante da adversidade, é virar a página, deixar a vida seguir, correr, de preferência sobre uma moto. Mesmo que seja ela uma Harley Davidson, Buell'l, Ducati, Triumph, KTM, Huskvarna, Polaris...
Faliu ou vai falir? Morreu? Não sei e nem interessa mais. Não merece nenhuma de minhas lágrimas nem de ninguém. Não merece um pingo de pena, nem mais uma linha. Um morre, outro nasce. E se espera sempre - elucubro então que esperança deva vir do verbo esperar... - que o que nasce seja melhor do que aquele que já se foi. Assim é a vida.
O que realmente importa no final de tudo, é que nós continuamos vivos. Vivos, felizes e sobretudo com a honra imaculada. Não somos empresários, mas também não vendemos o que não é nosso ou o que não temos. Quando o fazemos, é porque podemos, temos a legítima posse. Não somos ricos, mas pagamos todas nossas dívidas e compramos quando efetivamente podemos e temos meios para tanto. Ao mesmo tempo, porém, não somos otários. Daí que já não há mais pena e extingue-se a vergonha - ainda que alheia - e resquício de qualquer sentimento de culpa.
Monto eu na "Nazá", velha de guerra, com a qual tantas vezes estive naquela loja, sabendo ser a última vez que olho com rabo de olho para a vitrine. Sim, ela é "velha", mas sempre conservada, sempre emplacada, nunca alienada. Nenhuma dor de cabeça jamais deu... Por trás daquela vidraça, não há mais nada para se ver. Dou a partida e sigo meu caminho, de cabeça erguida, sabendo que a luta nunca termina até se chegar ao fim. A minha, portanto, segue. Quanto aos demais...
Parabéns aos verdadeiros motociclistas!