quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O Motoqueiro e a Ambulância



O Motoqueiro e a Ambulância


O que raios tem um a ver com o outro, você deve estar se perguntando, não é mesmo?


Ultimamente tem “me caído os butiás do bolso”, na melhor expressão gaudéria. Fico cada vez mais impressionado com o que tenho visto no trânsito dessa nossa capital sulista, que não varia muito do que ocorre em outras cidades “desenvolvidas”, ainda que eu pense que tal “desenvolvimento” não é bem como se deveria qualificar esse caos urbano (mas isso é outra discussão).


Já é a segunda vez que vejo isso só esta semana. E olha que ela nem acabou ainda...


Embaraçado com a “big trail” no meio dos carros, parado num dos semáforos, vi lá adiante tentando “furar” legalmente o outro semáforo uma ambulância com seus “giroflex” a mil, fazendo a sirene gritar alto. Nitidamente desesperado, o motorista da van tentava enfiá-la onde não cabia. Sim. Aquilo era realmente uma emergência, e das grandes!



Agora o motivo do meu estarrecimento: você acha que alguém deu passagem?


Quando eu andava de carro e não tinha contraído o vírus das duas rodas – e isso já vão lá dez anos, tendo o trânsito mudado muito (para pior, claro) desde então – a gente (os motoristas de carro) costumava à primeira sirene dar passagem de um jeito ou de outro, furando o semáforo, subindo na calçada, buzinando ao da frente que roncava ao volante, xingando os de roda para sair. Era um desespero coletivo, lindo de se ver. Afinal, o que estava em jogo era uma vida...


Ultimamente – e repito, é a segunda vez que vejo essa prática só nesta semana – parece que ninguém mais se importa. A única coisa que parece estar em jogo é a individualidade, o egoísmo, egocentrismo: “O quê? Sair da frente eu e perder meu lugar prá outro que virá atrás da ambulância? Não mesmo!”, “Hein? Passar o sinal fechado e ser multado por um “azulzinho” fdp? Mas nem pensar!!!”, “Lá, lá, lá, lá, lá... Báh! Show essa música de estourar os tímpanos!!! Legal também que eu tenho ar-condicionado e posso ficar tranks com minha música e meus vidros lacrados...”, “Alô? Quem? Mãe? Não... To no trânsito mãe... Agora não posso falar... Hein? Sim... É verdade! A fulana? Foi, foi... Pois é, tu vê! Falando nisso, sabes que...”, “Caceta... Outra ambulância! Vá si...”.


Mas dessa vez o desenrolar foi diferente...


Saiu do meu lado um motoqueiro (motociclista, pros que insistem em achar que há diferença) com sua pequena CG velha, daquelas caindo aos pedaços e sem cor definida, passou o sinal que eu estava parado e foi lá se embretar no meio dos carros. Passou à frente da ambulância e começou a buzinar, acelerar, dar “estourinhos” e só faltou chutar alguns que insistiam em não se mover. Resultado? Saíram do lugar, com medo pela integridade de seus retrovisores - afinal era um motoqueiro que estava “mandando” dar passagem à ambulância, e esses caras, você sabe, né meu amigo motorista? (nesse momento o que estava falando ao telefone percebe o mundo em volta), é tudo louco – e a ambulância pode finalmente seguir seu caminho.


Ele, ao contrário do que alguns poderiam imaginar (claro, que estes não estão lendo esse “blog”), assim que a ambulância se foi, ficou ali, parado, esperando o sinal abrir, a sua vez. Por um momento ele e sua moto me pareceram maiores. Aquela CG era agora maior que a minha big trail. Passei por ele quando o trânsito andou. É... Realmente ele e a moto estavam maiores agora.


Eu não sei quem estava dentro da ambulância. Ele também não sabia. Eu não sei se o paciente “chegou à tempo” ao hospital. Ele, com certeza também não sabe. Mas uma coisa eu e ele sabemos: minutos, segundos - e às vezes até frações desses - fazem grande diferença quando estamos em cima de uma moto. Uma vida estava em jogo... Então ele jogou, deu as cartas, porque ele estava em cima de uma moto. Aqueles segundos que ele alcançou de maneira desinteressada àquela ambulância, àquela vida, pode até não ter sido decisiva, mas, sem dúvida, deve ter feito grande diferença...


Quando sobre a moto - ou não - faça que nem aquele motoqueiro e respeite não só a sua, mas todas as vidas! Você não está só nesse mundo.